En portugués no es lo mismo "Todo o mundo" que "Todo mundo". Una historia real, por Eduardo de Morais Sabbag

Una historia real

Atención, no se trata de una duda sólo de las personas que estudian portugués. También los nativos cometen errores...

Todo mundo: significa todas las personas
Todo o mundo: significa el mundo entero
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A continuación, transcribo en portugués una nota divertida, real y ejemplificadora, publicada en el Jornal Carta Forense por el Profesor Eduardo de Morais Sabbag:

A Língua Portuguesa do Consumidor


"Uma história real"
  Há alguns dias, resolvi fazer umas compras. Precisava de alguns objetos para o escritório e decidi adquiri-los naquela ocasião. Em meio a tantas lojas, espalhadas pela movimentada rua em que estava, uma chamou-me a atenção. Tratava-se de uma grande loja de departamentos, em cuja frente estampava-se o seguinte anúncio:

"Toda a loja com 50% de desconto".

Diante da convidativa chamada, animei-me a conhecer o estabelecimento e suas ofertas. De fato, havia produtos com preços bem acessíveis, porém a maioria estava com preços elevados. Todavia, algo me tranquilizava: caso resolvesse comprar qualquer mercadoria, teria direito a 50% de desconto, conforme se anunciara na faixa colocada na porta.

Escolhi dois objetos e me dirigi ao Caixa. Lá chegando, esperei a atendente digitar os valores e percebi que os preços exigidos vieram "cheios", e não com o desconto prometido. Diante do possível lapso da funcionária, fiz menção ao desconto anunciado:

- Parece-me que não foi computado o desconto de 50% - disse-lhe.

De pronto, a Caixa respondeu-me:

- Não, senhor. Estas mercadorias não recebem o desconto. Apenas aquelas que estiverem com a etiqueta vermelha!

- "Etiqueta vermelha"?! - indaguei-lhe.

- Sim, apenas os produtos com tal etiqueta receberão o desconto de 50%!

Diante da situação embaraçosa, tentei demonstrar o porquê de minha indignação e, sobretudo, entender a intenção daquele estabelecimento com a faixa a todos estampada.

- Segundo a faixa que está lá fora, toda a loja terá 50% de desconto - expliquei-lhe. Não se mencionou que há mercadorias com desconto e outras sem desconto...

Curiosamente, a atendente, com certa arrogância, discordou:

- O senhor não entendeu bem o que está escrito na faixa! Queremos dizer que em todas as lojas de nossa rede há mercadorias com desconto. Por isso, escrevemos "Toda a loja com 50% de desconto".

Procurei controlar-me e, mais uma vez, em tom cordial, tentei explicar a impropriedade na faixa:

- Minha amiga, entendi bem o que está escrito na faixa. Talvez a loja é que não tenha compreendido bem aquilo que pretendeu escrever... Quando se diz que "TODA A loja está com 50% de desconto", quer-se mencionar que todos os produtos da loja estão mais baratos, contendo o desconto mencionado.

A atendente olhava-me com bastante desconfiança, mas ainda não estava disposta a concordar:

- Pelo jeito, o senhor está querendo insinuar que não respeitamos os consumidores em nossa loja! Aqui se respeita o Direito do Consumidor!

Sem me exaltar, continuei tentando esclarecer:

- De modo algum. Não estou insinuando isso! Acho que estamos diante de uma dúvida de português e, se quiser, posso orientá-la.

Como eu me mostrava "desarmado", a atendente não encontrou espaço para extravasar seu inconformismo e resolveu, finalmente, dar-me ouvidos.

- Já que o senhor conhece, pode explicar, então! - disse-me.

- Veja, minha amiga, se a loja pretende anunciar que todos os estabelecimentos da rede estão dispostos a dar um desconto de 50% em produtos, deve reproduzir a ideia da seguinte forma: "TODA LOJA com 50% de desconto". Note que não utilizo o artigo definido depois do pronome indefinido "toda". Assim, "toda loja" significará "qualquer loja".

E prossegui na explicação, notando que já contava com uma pequena plateia interessada - é que a atendente já tinha solicitado a presença da supervisora e da gerente para reforçarem "a bancada da oposição".

- Por outro lado - disse-lhe -, se há a intenção em dizer que todos os produtos da loja estão com 50% de desconto, deve-se divulgar a seguinte informação: "TODA A LOJA com 50% de desconto". Note que utilizo o artigo definido depois do pronome indefinido "toda", criando a formação "toda a". Assim, "toda a loja" significará "a loja inteira".

Nessa altura da discussão, a dúvida já estava desaparecendo. A supervisora, que havia chegado há pouco, interveio no acalorado debate e deu sua opinião:

- É verdade! Pelo que noto, acho que cometemos, sim, um equívoco. De fato, pela explicação que o senhor gentilmente nos dá, deveríamos ter escrito de outra forma lá fora, suprimindo a palavrinha "a", depois de "toda". Em vez de "toda a loja", deveríamos ter anunciado "toda loja".

Confirmei, de pronto, sua conclusão:

- É verdade! Havendo o artigo, o pronome dará sempre o sentido de "inteiro" ("toda a semana" equivale a "a semana inteira"); sem o artigo, o pronome reveste-se da sua condição de palavra com alcance indefinido ("toda semana" equivale a "todas as semanas", "uma semana após a outra").

E complementei:

- Trata-se de um equívoco comum. Aliás, quem escreveu a faixa não deve se sentir mal. A norma gramatical é estranha, mesmo! Veja que quando escrevemos "todo homem", querendo dizer, portanto, "qualquer homem", o singular passa a valer pelo plural, pela totalidade, daí a estranheza para quem enfrenta tal encruzilhada linguística. Portanto: se alguém quer falar que trabalha diariamente, dirá que labuta "todo dia"; porém, se quer afirmar que trabalha o dia inteiro, anunciará que labuta "todo o dia".

A gerente, que também já se mostrava convencida, acabou enriquecendo a conversa, em tom jocoso:

- Puxa! Coincidência! Há poucos dias, minha filha questionou-me se deveria falar "todo mundo" ou "todo o mundo" e, pela minha resposta, não sei se me saí bem. Como deveria ter dito? - indagou-me.

Como o "clima" estava bem melhor, e todos pareciam ter-se acalmado, senti-me à vontade para esclarecer a "mãe desesperada":

- A expressão "todo mundo", bastante utilizada na linguagem coloquial, desperta muitas dúvidas. Desde já, posso lhe assegurar que as duas formas - "todo mundo" (mais comum ao falante) e "todo o mundo" (com maior rigor gramatical) - são aceitáveis, quando queremos nos referir ao "mundo inteiro", ou seja, em sentido figurado, a "todas as pessoas". Aliás, recentemente, a revista Veja publicou em sua capa o título "Todo mundo de olho no Brasil", sem o artigo definido após o pronome. A meu ver, entretanto, a forma ideal será aquela com a presença do artigo definido. Assim, sugiro que ensine para sua filha que a expressão "todo o mundo" é melhor do que a forma "todo mundo", ainda que ambas sejam aceitáveis.

Nesse momento, a atendente houve por bem intervir, já em tom pacificador:

- Peço desculpas ao senhor. Parece que o "português" pegou todo o mundo daqui da loja. Com todo o respeito, perdoe-me....

Aceitei as desculpas, sem problemas, mas não pude perder o "gancho":

- Não se preocupe! Pelo que acaba de me dizer, percebo que aprendeu muito bem a matéria... Disse-me que "(...) o 'português' pegou TODO O mundo (...)", e me pede perdão "(...) com TODO O respeito (...)". Expressou-se muito bem! Parabéns! De fato, quis mencionar todas as pessoas da loja (daí a expressão "TODO O mundo") e fez menção a um substantivo abstrato, mostrando-o que é pleno e completo (daí a expressão "TODO O respeito").

- Obrigada - disse a atendente. Gosto de aprender as coisas e vi que o senhor me convenceu.

A gerente da loja, percebendo que tudo havia se resolvido, prometeu-me a tomada de providências:

- Tiraremos, agora, a faixa lá de fora! Iremos substituí-la, divulgando a outra frase "Toda loja com 50% de desconto", já que queremos nos referir ao desconto dado em qualquer loja da Rede, e não a todos os produtos desta loja.

E, em conformidade com os melhores princípios de justiça, a graduada funcionária arrematou:

- Como o senhor nos ajudou, (e muito!), deve levar os seus produtos com o desconto de 50%!

Senti-me satisfeito e não recusei a oferta. Por outro lado, embora acredite na importância de se conhecer bem as encruzilhadas da língua, não imaginava que tal episódio comigo pudesse acontecer, repercutindo tão incisivamente em meu dia a dia.

Pegando os pacotes, despedi-me das funcionárias. Uma delas, todavia, deixou escapar:
 - Muito obrigada, senhor. Quando houver a próxima liquidação, avisaremos.
 Quase chegando à porta da loja, aproveitei para gracejar:
 - É melhor me avisarem quando houver a próxima "colocação"...de faixa!

Todos riram, e a atendente voltou a atenção para toda a fila que se formara. A propósito, TODA A fila, ou ainda restam dúvidas?

Fuente: Profesor Eduardo de Morais Sabbag, publicado en el Jornal Carta Forense

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